domingo, 11 de agosto de 2013

Sobre o Fora do Eixo, mantenedor do Mídia Ninja

Este assunto aqui (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/fora-do-eixo-obstaculos-brasileiros-ao-aparecimento-do-novo)

FdE = Sigla para Fora do Eixo
Dona Perpétua = Uma "doida" que teve sua arte ignorada por quem, numa cidade, deveria ver a arte e preservá-la.

CADÊ OS POTES DA DONA PERPÉTUA? Caro Ricardo, o FdE levou-nos a pensar sobre várias coisas e, portanto, sobre isso (o sistema taylorista fordista toyotista de produção) também. Sou simpatizante do Fora do Eixo não apenas por conta disso(sistema de produção) mas por atuarem como curadores no campo da arte. Tenho um pé nas artes plásticas e desde quando comecei fujo do nosso velho sistema de lidar com a arte(via instituições fracassadas) como o diabo foge da cruz,  sei o que é isso: Os velhos gestores que lidam com a arte ficam a repetir velhos modelos, os museus funcionam como propriedade privada de uma elite artística e isso não é por culpa dos gestores mas devido ao modelo mesmo de continuidade de um esquema que mantém fechado o círculo (ou circuito artístico), como dizem, nem todo artista gosta de puxar saco para ou de fazer política da boa vizinhança junto a mídia e gestores públicos para ter as portas abertas, nem todo artista tem saco prá lidar com isso tá fora, muitos nem sabem lidar com a grana, não querem saber desse mundo cartesiano e por isso sua arte jamais será mostrada e nós é que perdemos, não há um mapeamento, lembro-me agora de uma senhora que se chamava Perpétua, ela não falava mas não era muda e fazia lindos potes de cerâmica, ela vendia seus belos potes para poder se alimentar, ela morreu e nenhum dos seus potes foi guardado e isso ocorreu senão por falta de alguém que intermediasse ou, como dizem, fizesse a curadoria da sua vida.
O que o FdE faz senão intermediar isso, afinal de contas dificilmente conheço artista que tem paciência de lidar com esse mundo cartesiano, dos negócios, de fazer projetos para apresentar nos concursos na área cultura. O FdE veio e passou a fazer isso, formou uma rede no Brasil inteiro e alguns países da América Latina. Por isso apoio, mesmo sabendo que meu modelo é outro, ou seja, o que chamo de realidade spin que, é claro, não pode ser aplicada na realidade atual. Como é na realidade spin? Lá os filósofos clínicos é que fazem o trabalho do Capilé. Explico: O Poder Curador existe no lugar do Judiciário. No lugar de penas de morte, penas de vida. Ao invés de julgamentos e castigos o abolicionismo penal. Como isso é possível? Os filósofos clínicos acompanham os viventes do ventre à sepultura. Até a sepultura? Sim, pois quando o indivíduo bate as botas o Poder Curador, via filósofo clínico, terá em mãos todas as sua coisas para ficar na cidade enquanto história, memória, arte e objetos artísticos para acesse de todos nós, caso contrário tudo vai pró lixo. Como é na realidade atual senão o abandono total do artistas? Diante do deserto, do espaço vazio, o FdE chegou e ocupou o espaço e, ao ganhar visibilidade, virou alvo. Por causa da famosa carta da cineasta, também atirei pedras contra o FdE mas, ao pesquisar, vi que a coisa não é bem assim, inclusive a cineasta recebeu o que lhe era de direito, o FdE tem que corrigir isso, a grana do artista é sagrada. Parece que me perdi... Ah, mais um vídeo sobre sistemas de produção http://www.youtube.com/watch?v=DUI1qr7tiH8&feature=youtu.be



Atualização - 23:34

Noto baixaria inclusve gente realçando aspectos físicos de Capilé, será que não dá pra ficar no plano das idéias e do debate saudável, segue texto sobre maio de 68
MAIO DE 68: NOVAS SUBJETIVIDADES, MICROPOLÍTICAS E RELAÇÕES DE PODER, por Leonel Aguiar, Professor do Programa de Pós-graduação em Comunicação Social e do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio. Doutor e Mestre em Comunicação e Cultura pela UFRJ. Jornalista graduado pela UFF.
Resumo: A proposta desse artigo é adotar o acontecimento Maio de 68 como referência teórica para
discutir determinados conceitos formulados por dois pensadores franceses: Foucault e Guattari. A
partir desses pensadores contemporâneos, pretende enfocar a emergência das novas subjetividades, a formulação de um novo conceito de poder e as relações entre poder e saber.
OS ENGAJAMENTOS POLÍTICOS DE GILLES 
DELEUZE*
Gilles Deleuze’s Political Commitments 
François Dosse**
RESUMO
Por trás da obra filosófica de Gilles Deleuze, voltada notadamente à 
construção de conceitos, percebe-se sua propensão à defesa de causas 
políticas, pontuais e concretas. A partir de maio de 1968, ele participa 
de movimentos sociais (GIP) e de debates políticos e intelectuais que 
animaram a década de 1970. Seus escritos filosóficos atestam seu espírito 
”rebelde” e sua aversão a toda forma de poder e de opressão.


Discussão no Revista Fórum

Assista à entrevista com Pablo Capilé do Fora do Eixo

Ana Lagoa

QUEM É CARETA QUE FIQUE NO MERCADÃO E NO SISTEMÃO

As residências coletivas existem em todo o mundo. Da Mongólia a Cristiana, passando pelas ecovilas. Os rapazes estão causando espanto porque a midia simplesmente ignora a existência do Brasil solidário, cooperativo, que vive e produz coletivamente e, em alguns casos, usa até mesmo outra moeda e tem seu próprio banco. Não existe apenas o Brasil que aparece na midia. Tudo que os FDE e Ninjas estão fazendo, já se faz há muito tempo, mas só agora chegou ao jornalismo. E incomoda muito... afinal... o rei ficou nu, não é mesmo?


Cristiana começou como voces e depois teve que se fechar porque quase foram destruídos. Já as comunidades do interior da França - fundandas por militantes dos anos 60 - foram mais fechadas desde o começo. As ecovilas nascem a partir de grupos fechados. Os modelos são muitos. As experiências as mais diversas. Valeria a pena um dia vcs analisarem essas experiências e estabelecer em que medida há parentescos entre elas e a comunidade FDE. E não tenha dúvida: - vai levar mais cem anos de resistência às mudanças nas formas de produzir a sobrevivência. É a história.







Atualização -


As diferenças entre mídias alternativas e grande mídia me parecem mais entre produção artesanal (ainda que com ferramentas modernas) versus produção industrial que propriamente entre novo versus antigo. 
Com frequência temos experiências assim.
Nos anos 1970/1980 floresceu na Itália a terceirização da produção de roupas e sapatos através da produção em pequenas unidades domésticas.
Em mais de um lugar se desenvolveram comunidades hippies que interagiam com o mercado na venda de artesanato. No campo cultural temos/tivemos os 'fanzines' que podem ser vistos como os antecedentes dos blogs.
Uma organização 'horizontal' e artística que foi um sucesso por décadas parece ter sido a United Artists, em que atores e diretores se reuniram para não responder ao controle e determinações dos barões do cinema.
E temos todas as atividades organizadas em torno de trocas e cooperativas, comércio de 2a. mão (isento de impostos), produção agrícola e a própria produção de leite, que nunca se organizou como latifúndio.
Mas a sociedade industrial (agora pós-industrial) depende de produtividade, arrecadação de impostos, controles diversos.
Pelo que continuaremos dentro dos eixos.
"Eu abri uma frestinha na porta do armário. Dei uma escapadinha para fora. Eu entro no armário de novo e tranco a porta. Boto cadeado. Juro." http://www.facebook.com/FelixBichaMa

imagem de IV Avatar da Meia Noite
Pelo que continuaremos dentro dos eixos.
kkkkkk gostei mas tava tão bom sonhando com um mundo novo...rss,..mas vamos ver no que vai dar esse caldo fora do eixo, volto à questão do mecenas, eles fizeram esse papel de curadores da vida de artistas até então anônimos, que não teriam vez na velha mídia.,,o modelo de inclusão deste movimento que se considera como movimento de rua é bom, erros devem ter ocorrido,.,,quanto a ser uma coisa empírica concordo, que falta faz nessa hora um Deleuze para assessorar a moçada ou um João Pedro Stédile


Atualização - 12/08/2013

Tutty Vazquez: que teipo de velho você é?

Sugerido por sersikera

Tutty Vasquez é ótimo:

Do Estadão

A gente percebe que está ficando velho, numa boa, quando admite sem vergonha que não consegue acompanhar direito a lógica e a velocidade de raciocínio dos rapazes do Fora do Eixo e da Mídia Ninja – Pablo Capilé e Bruno Torturra –, protagonistas do último ‘Roda Viva’ (TV Cultura), assunto da semana nas redes sociais.
Estamos falando de midiativismo, mosaico das multiparcialidades, teia editorial, expansor de consciência, desapego à mera viabilidade contábil, moeda complementar, cards, crise narrativa, lógicas de produção do século 21, coletivos midiáticos e o escambau, saca?
Não há nada de errado em envelhecer, a não ser quando esse descompasso com o pensamento em gestação irrita a gente a ponto de provocar ânsias de jogar água fria no tubo de ensaio das ideias novas. É isso que difere o homem velho do cara gagá!
Na mesma faixa etária, tem ainda um tipo que finge entender a rapaziada para não parecer que está ficando velho. Esses são os piores!

http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/tutty-vasquez-que-tipo-de-velho-voce-e

Outros comentários:

Morgana profana: Titia 'tá curiosa...
Como podemos definir um campo político para legitimação deste "fenômeno"(ou será mero sintoma?) de algo que por natureza se apresenta como impassível de ser classificado?
Mas toda vez que História assiste(e titia estava lá com raulzito quando as pedras rolaram da caverna) o surgimento de algo que resiste a ter categoria, sobe um cheiro de enxofre no ar...
Favor não confundir a necessidade imperativa de situar o movimento dentro de uma perspectiva histórica e política com a homogeneização descuidada...na-na-ni-na-não. Titia não cai nesta velha armadilha...
Os fora dos eixos assumem a (im)postura: não nos conhecem, então nos classifiquem, mas ao mesmo tempo se portam como camaleõs dificultando qualquer aproximação, acumulando confusão como capital político.
Não é por aí que faremos progresso...
Não é preconceito nosos, aversão ao "novo", má vontade ou rabujice...
Mas no meu tempo de menina, ixi, e já vão algumas eras, eu aprendi com minha velha bruxa-mãe o seguinte:
Não pegue carona em vassoura de estranhos(as);
Não dê carona em sua vassoura a estranhos(as);
Não dê as costas a seu cálice de poção;
Não beba no cálice de poção dos outros;
E não apoie aquilo que não conhece, e que rejeita se revelar!
Nada mais autoritário e retrógado que a postura dos meninos do "fora do eixo", que adotam este tom de mistério, do tipo, nos amem, mas não tentem nos entender, ou decifra-me e mesmo assim te devoraremos...
jesus começou assim, e olha a mer..a que deu: padres comendo criancinhas, e vaticano lavando dinheiro da máfia...sem falar o problema com a virgens e as madalenas...afff...

Jaime Balbino: O Fora do Eixo não parece fugir de dar explicações ou de se fazer entender. O que ele está rejeitando é ser enquadro na caixa que seus críticos contruíram para eles. É bem diferente.
Não sei porque eles deveriam aceitar o enquadramento. Apenas para deixar os críticos felizes e tranquilos com as definições que inventaram?

Morgana profana: Jaime, meu fofo, aí temos um problema conceitual que sua lógica não resolve...Titia é burra, mas vai fazer o esforço:
Citemos a orelha do livro do Bordieu: o discurso é de quem ouve, não de quem fala.
Não se trata de tentar ser original por aquilo que se imagina ser, na imagem auto-construída...Hitler, com certeza, não se diria o monstro que foi...
O processo de classificação e legitimação do nosso discurso, quando propomos algo, é incontrolável.
É certo que não devemos nos submeter as categorias que sejam estranhas a nossa proposta, mas até para isto, é preciso delimitar e dar uma cara a esta proposta, uma definição, e enfim, uma categoria.
Um grave erro é misturar os desentendimentos dos conservadores com os progressistas, como se fossem anomalias simétricas ou de mesma natureza mas de sinal trocado.
Não são!
Ou você imagina na possibilidade de uma esfera de intervenção marcada pelo signo da "não intervenção".
Todas as fraudes ideológicas que nos foram apresentadas como símbolo do "novo", a superação do "arcaísmo de esquerda" vieram embaladas em caixinhas bem parecidas com a que envolve este pessoal...
Seriá então a arte e a cultura possibilidades meramente estéticas, fins em si? O meio devorou a mensagem?
Torço que não!
Fofo, para dar conta das expectativas criadas, só tem um jeito: Atos! Práxis! Causa e efeito!
Ainda não inventaram nada diferente, e me perdoe o ceticismo de bruxa velha, com quatro milênios de caldeirão: Não será este pessoal que vai mostrar algo realmente novo, até porque, não se transforma o "corpo" da História através de seus soluços...Tem que transar com ela, fencundar e assistir ela parir novas Histórias!

Jaime Balbino: A tia acertou no final do primeiro parágrafo que escreveu.
Desmistificar o discurso político respaldado por Bordieu é louvável, mas você deve concordar que não é isso  o que está acontecendo... Não se está realmente descontruindo o discurso do FdE mas querendo impor um novo relevando-se qualquer coisa dita pelo FdE. Não é análise e nem desconstrução. É substiuição.
Neste caso temos que é o discurso imposto que se reinterpreta. O deles nem teve essa oportunidade. Bourdieu lhe dará um puxão de orelha quando invocá-lo novamente deste jeito, como muleta.
Por fim, se não "é esse pessoal que vai fazer algo novo" porque perdem tempo com eles? Acham realmente que eles vão tomar conta de tudo?

Morgana profana: Balbi, baby, você tem que ser honesto, intelectualmente...Tem que escolher um patamar, uma referência para pautar seus argumentos(que são poucos, porém sinceros, eu admito).
Primeiro você diz que a crítica é pela crítica, que ninguém está disposto a ouvir o que os caras querem dizer!
Destruimos esta tese pela impossibilidade de entender (aceitar ou criticar) o que não quer se fazer entender, para não pagar o ônus da interlocução e do debate.
Aí, quando titia diz que os caras não querem ser ouvidos (e entendidos), mas só ouvidos e aceitos, com um viés de mão única, você reclama que estamos a querer substituir o discurso deles...
Olha, filho, esta é a reação normal de quem ouve algo que não quer se digerido por quem ouve, mas apenas empurrado goela adentro...
Eu sei, eu sei que você passou a vida toda engolindo o que te diziam, e que é difícil agir diferente, ainda mais quando pela primeira vez, algo tão sedutor se coloca para ser "engolido", sem mastigar...
Bom, ainda bem que titia usa Bordieu como muleta...no seu caso, nenhuma muleta dá jeito, sua concepção de mundo, cultura e ideologia é tetraplégica...
Vai ver que é por isto que se apega a estas religiosidades tecnológicas e as "novidades místicas".
Nem precisa tanto, se vier aqui em casa, titia lhe prepara uma caldeirada supimpa!!!

Luiz Eduardo Brandão: Percorrendo os comentários, a maioria absoluta desanca o FdE, disparando sempre os mesmos argumentos. Mas passam ao largo do que é muito mais importante: o modelo de produção e divulgação cultural posto em prática. Admitamos que o FdE seja uma organização de direita, como dizem certos comentadores que se dizem de esquerda; escravocrata, como dizem os de direita e os de esquerda; que mama despudoradamente nas tetas do Estado etcétera e tal. Seja. Isso significa que esse modelo, que aliás existe em vários cantos do mundo, empregado nos mais variados ramos da atividade humana (até mesmo na produção de energia, vide as ideias de Jeremy Rifkin), não presta? Para não escorregar em outro erro que parece imperar na maioria dos comentários, a resposta à pergunta deve considerar que, como lembrou muito bem lembrado o Nassif, não se trata de substituir os modelos atuais de produção e divulgação cultural, mas de ter um novo modelo de fazê-lo, paralelamente e, por que não, de forma complementar a esses outros.
P.S. Falando no Rifkin, que defende um modelo "distribuído" (distributed economy), deem uma olhada nos gráficos abaixo e me digam se cabe a noção esquerda/direita aplicada a essas formas produtivas da tal "nova era", a da produção em rede -- de cultura, de conhecimento, e mesmo de política -- representada pelas 2ª e 3ª imagens.
Descrição: Re: Fora do eixo: obstáculos brasileiros ao aparecimento do novo

Artaud: Admitamos que o FdE seja uma organização de direita... ... escravocrata, como dizem os de direita e os de esquerda; que mama despudoradamente nas tetas do Estado etcétera e tal. Seja. Isso significa que esse modelo, que aliás existe em vários cantos do mundo, empregado nos mais variados ramos da atividade humana (até mesmo na produção de energia, vide as ideias de Jeremy Rifkin), não presta?
Adimitindo-se que a tal organização tenha característica escravocratas, de direita e mama nas tetas do governo, como colocado acima, a resposta para a pergunta formulada,"siginifica que não presta?" só admite, pelo menos de minha parte, uma resposta: significa.

Luiz Eduardo Brandão: Artaud, acho que houve um mal-entendido, senão sua resposta seria absurda, o que me espantaria vindo de v. Sem dúvida, v. se refere, quando responde "não presta", ao FdE, se for o que alguns dizem que é. Não foi o que eu quis dizer, e sim: se o FdE "não presta", também não presta a produção e divulgação por meio de uma rede de coletivos que ele é um dos que praticam? Isto é, se em vez do FdE, houvesse outra estrutura sem os defeitos que se atribui a ele, FdE, mesmo assim esse tipo de "paradigma", como diz o Nassif, deveria ser descartado? Seria tão lógico, p.ex., quanto condenar a produção de café e de açúcar por ela ter sido feita fundamentalmente, a certa altura da história, com mão de obra escrava.
Diogo Costa: O ARCAICO FICOU MODERNO! - O moderno agora é a precarização do trabalho. O moderno agora é o 'precariado cognitivo'. 

O moderno agora são as relações "horizontalizadas" em que o mundo do trabalho, com seus respectivos conceitos e conquistas, tornou-se anacrônico e obsoleto. 

O moderno agora é descer a lenha nas Centrais Sindicais e tecer loas às "novas formas de organização desmonetizada". 

Que mané direitos trabalhistas e previdenciários? A onda agora é o trabalho "colaborativo" sem remuneração e sem garantias trabalhistas! 

As classes patronais estão em êxtase! Já imaginaram que maravilha transferir o modelo liberal do início do século XIX, com relação às relações laborais de Casas Fora do Eixo, para o trabalho nas indústrias e no comércio?

Sinceramente, as manifestações de junho fizeram mais pela classe dominante, pelo liberalismo e pelo capital financeiro do que mil Redes Globos em conjunto poderiam sequer pensar em fazer...

Substituíram a luta de classes pelo coletivos culturais pós modernos e "horizontalizados"!

Jaime Balbino: O erro desse tipo de crítica é considerar a exploração do trabalho e da mais-valia como o supra-sumo das relações humanas. Achar que O Fim está na estratégica dos Sindicatos de conseguir mais um pouco "do nada" que recebem dos lucros do Capital.
Não se pode ser criativo, divulgar e construir conhecimento sem que a CLT esteja presente. Estudantes do Ensino Fundamental, pesquisadores de Iniciação Científica, Graduandos e Pós-Graduandos das Universidades e pensadores/artistas/artesãos em geral devem se concentrar no quanto de lucro suas ações vão gerar para si. Que se dane qualquer ação "fora do eixo" do individualismo. O discurso aceito é que não se produz Arte/Cultura/Conhecimento se não for bem remunerada dentro da Lógica Capitalista!
Que a Wikipedia me pague para corrigir um verbete e que minha consciência pese ao ver um filme ou ouvir uma música ou ler um texto no Blogue do Nassif sem pagar seus autores! Que me remunerem (e bem!) por esse comentário que escrevo!!!
A Explosão Cultural que vivemos com milhares de músicos, pensadores, jornalistas, videomakers... é prova cabal de que esse viés de crítica não é significativo para explicar o que está acontecendo.

Anarquista Lúcida: Você nao vive, trabalha e se relaciona só com os membros da Wikipédia ou só com os daqui... É MUITO diferente dar contribuições gratuitas eventuais, mesmo se frequentes, a algo em que se acredita, e viver imerso num mundo fechado, sem recursos materiais para sair dele (nao só sem dinheiro, tempo de previdência, e FGTS, mas tb sem um currículo que mostre os trabalhos de que participou; e tendo inclusive sendo induzido a largar a faculdade, ou seja, se sair terá de sair com uma mao na frente e outra atrás), preso afetivamente tb. Isso é comportamento de SEITA. Nao tem nada de novo nisso. 
Jaime Balbino: Não preciso concordar com o modelo coletivo do FdE para respeitá-lo. Já vivi esse tipo de coletivismoe sobrevivi. Não repetiria esse modelo de gestão e não o recomendo. Mas não posso dizer que essa experiência radical não seja benéfica para a construção de uma boa análise crítica do trabalho (acho que a melhor) e a formação de lideranças com ampla visão sistêmica. Mas para ser realmente radical deve-se cumprir totalmente os preceitos anarquista ou socialista utópico.
Acho, inclusive, que falta mesmo ter vivido essa experiência para qualificarem a critica. Inventam-se enquadramentos como "mesma exploração capitalista", "autoritarismo", "seita" para a própria tranquilidade na análise, não para realmente entender o que está acontecendo.

Shannon Garland: Olhar de Alguém de Fora no Fora do Eixo, por Shannon Garland*, no La gringa Sudaca, via Vi o Mundo 
O que eu posso dizer com respeito ao Fora do Eixo que ainda não foi dito? Pra quem não me conhece, eu sou doutoranda na etnomusicologia na Columbia University, pesquisando questões da relação entre música independente, novos modos de economia de cultura e tecnologias digitais. Minha pesquisa vai além do contexto Brasileiro e o Fora do Eixo no Brasil, mas faz parte. Eu colaborei na Casa FdE em São Paulo a partir do fim de Julho 2011, até Abril (mas ou menos) de 2012. Não morei lá, mas fui duas vezes por semana por uns meses e continuei a trabalhar à distância depois, além de assistir o Congresso FdE em 2011, o Seminário da Música em 2012, o Grito Rock em várias cidades, e outros.
Sendo uma pessoa que nunca foi engajada com Fora do Eixo como membro próprio, nem parceiro com projeto particular a realizar com eles fora da minha própria pesquisa, talvez eu tenha uma perspectiva diferente a várias que tão rolando por ai. Aliás, nas críticas das críticas do Fora do Eixo, tem muita pessoa pedindo que algum jornalista vá pra lá pra observar e sacar as próprias conclusões, algo que seria mais “objetivo,” embora, como o próprio Capilé afirma, isso não exista. Nisso eu tou com ele sim, acho que temos que assumir as nossas posições, é através delas que a política se faz. Até agora eu só vi pessoas que ainda trabalham com eles, tipo Torturra, Ivana Bentes, defendendo, e do outro lado ex membros e pessoas que se ferraram com eles alegando.
Como eu nem tou “com” eles nem fui pessoalmente ferida, acho que posso oferecer algo mais perto a esse “objetivismo” tanto pedido. Isso também é porque, sem trabalhar com/para/como eles mesmo, seria impossível saber o que está de fato rolando. Eu também fiquei fora dos processos mais por dentro da rede; achar que um jornalista ou qualquer um possa chegar lá, observar, até passar umas semanas e sair conhecendo como funciona “de verdade” é um erro muito grande. Como foi dito no depoimento da Laís, só certas pessoas tem acesso aos processos e às decisões de funcionamento maior. Nem eu, que trabalhei por meses lá, sei direto, e acho que como falou Laís, é assim mesmo com a maioria das pessoas de baixo nível que trabalham lá. Ao mesmo tempo, os trabalhos que fiz pela rede e as interações que vi sim me deram uma vitrine ao funcionamento de modo mas profundo do que seria chegar lá e ser recebido por alguém que te explica nessa linguagem tão especial as maravilhas do Fora do Eixo.
Eu fui trabalhar pelo Fora do Eixo pra poder conhecer por mim mesma. Meu interesse pessoal e professional é arte, tecnologia e economia, e eu queria sacar minhas próprias conclusões sobre o que o Fora do Eixo estava fazendo com tudo isso. Como acho que o pessoal de Fora do Eixo sabia, eu também conheço muitas pessoas do meio de produção de música independente em São Paulo, pessoas que realmente não gostam nada do Fora do Eixo. Muitas destas pessoas conhecem FdE muito de perto, já que quando Cubo e Calango ainda existiam, lá quando o Fora do Eixo estava começando e os festivais da Abrafin realmente estavam no auge, eles trabalharam juntos no meio geral de produção de música. Muitas destas pessoas vêm trabalhando nesse meio também por uma década, ou em alguns casos, por mais tempo. Então não é um bando de folgados não fazendo nada e meio ressentidos que levantam críticas. São pessoas que tão realmente tentando produzir arte, fazê-la de forma sustentável, lidando também com os desafíos e aberturas que as tecnologias digitais proporcionam. E, vale ressaltar, elas também querem ver um fim aos absurdos quanto à cultura, política, crítica (ou falta disso) sob o controle dos conglomerados gigantes de telecomunicação.
Isso é uma das minhas críticas ao Fora do Eixo: quase qualquer pessoa que questiona é sim chamada de “analógica” e tratada como se não quisesse mudança de cultura, de política e tudo mais. Que tá vivendo no passado e que não quer trabalhar pra lidar com as mudanças aceleradas pelas novas tecnologias e o modo atual do capitalismo (ouvi muito, mas muito esse tipo de discurso no Congresso, no Seminário de Música, etc.). Por outra parte, eu também não posso deixar de criticar alguns dos críticos por tomar um posicionamento de crítica sem conhecer o Fora do Eixo muito bem. Os dois lados viram turminhas fechadas de alguma forma, repetindo fofocas e “verdades” repassadas já por anos. Eu não culpo muito nenhum dos lados nesse sentido. Somos seres sociais e fazemos nossos grupos em parte contra outros grupos, que nem os Liliputianos. Contudo, eu também entendo o cansaço dos críticos, porque as críticas não são de fato tomadas em sério pelo Fora do Eixo, a não ser que abram um caminho pelo avançao do Fora do Eixo que não foi pensado até então. Nos casos de autocrítica que o Fora do Eixo faz (e ele faz sim), parece que houveram umas mudanças—todo o processo de desenvolver a produção de múisca em várias etapas mostra isso, acho. Só que ao mesmo tempo foram feitas pra poder fortalecer a rede (e vou volver a isso depois, e falo nos artigos). Logo antes de eu deixar de pesquisar a rede o FdE estava tentando descentralizar as operações de música e melhorar o feedback entre bandas e produtores. Só que, de novo, acho que tem uma brecha entre esse discurso e até vontada mesma e o que acaba sendo praticado. 
Eu vivi a resistência à crítica muito claramente no Congresso Fora do Eixo em São Paulo em 2011, e vi também nos seminários da música na casa em 2012. No meu caso, fiz a crítica que o Fora do Eixo não podia servir, como tava falando que queria, como um “plataforma neutral” (pós rancor, pós marca, tudo mais) da música e ao MESMO TEMPO empurrar certas artistas como fazia com Gaby Amarantos e as bandas dos coletivos FdE. Estava apontando uma contradição na prática e no conceito, mas Pablo simplesmente falou que sim podia ser os dois ao mesmo tempo e fechou o assunto. Eu também vi isso no seminário da música, quando Pena Schmidt tentou convencer a galera que essa linguagem própria que tem prejudica a comunicação com pessoas não FdE. Nesse dia, Capilé agradeceu e deu como se fosse considerar o ponto. No dia seguinte, quando os críticos invitados já não estavam mais, fez, com muita energia, questão de dizer que não precisavam essa comunicação mais clara, que FdE podia fazer o que queria e não precisava de mais ninguém. As pessoas que conhecem FdE há quase 10 anos, em geral pessoas da música, já sabem tudo isto e por isso não fazem questão de aparecer nos “debates” e tudo mais. Ficaram cansadas faz tempo. Mesmo eu, que só andei no rolê dois anos (até menos), fico cansada com o discurso repetitivo, dos caras de sempre (Cláudio Prado, Capilé, Felipe Altenfelder, Kuru Lima, Alê Youssef, Alex Antunes, Pedro Alexandre Sanches, Rodrigo Savazoni). E olha que, a não ser que Ivana Bentes apareça, nos debates de “importância” são sempre homens. Deve ser por isso que gostam tanto de masturbar-se discursivamente.
Tudo isso pra mim é bem triste pela seguinte razão: eu vejo sim uma vontade nestas pessoas—tou falando aqui de pessoas interlocutores (mas também os membors FdE têm)—de sim pensar de forma crítica nas relações emergentes entre tecnologia de comunicação, poítica, arte, afinal, como tá mudando o próprio coneito de estado civil e a relação entre ele e tudo o citado antes. Ouvir essas discussões, ao começo, foi realmente estimulante pra mim de modo intelectual. Só que dai ficam parados na mesma coisa de sempre, e após um tempo você saca que essas pessoas podem sim ter um interesse intelectual e prático, mas essa parte ficou muito por trás do exercício de se mostrar como alguém que pensa e faz estas coisas. Fica uma performance da turminha na comanda dessas políticas no país e todo o mundo que quer valer no meio deve aparecer e dizer umas palavras sem aprofundar muito no assunto. É a mesma coisa que você vê com os religiosos do Julian Assange—aceitação cega frente ao altar do digital sem realmente ir além do já estabelecido “bom universal” do código aberto, circulação “livre” e tudo mais. Por isso sempre foi me perplexo ver pessoas que eu respeito muito como pensadores e ativistas nestas questões e de outras—como Hermano Vianna, Ronaldo Lemos, Oona Castro— também elogiar tanto o que faz Fora do Eixo (até Vianna passou Overmundo, já editado por Dríade Aguiar do FdE, pra controle de FdE no fim do ano passado). Eu fico pensando que estas pessoas, igual como o George Yúdice antes de entrar em problemas e talvez até mesmo o Bruno Torturra, não vêem todas as contradições e todas as irregularidades entre a fala e a prática de FdE. Principalmente com a estreita hierarquia de poder e do funcionamento dentro da rede, e também com os numeros superfatuados de produção e circulação de artistas e tudo mais, e esse discurso de rede das redes, horizontalidade, e outras coisas em voga. Seria fácil não ver tudo isso se você simplesmente ouve o discurso maravilhoso da cúpula e passa uns tempinhos na casa vendo todas as pessoas frente aos computadores trabalhando como formigas felizes.
Eu sei porque talvez se eu não conhecesse pessoas muito contra deles, eu também não teria percebido o funcionamento igualmente desorganizado, hierárquica, e sim incrívelmente preocupado com a imagem da rede. Eu já escrevi um artigo sobre como a estrutura de FdE privilegia a própria rede, e como as ações que eles fazem quanto à imagem na internet ajudam nessa construção. Nesse artigo (tem uma versão mais elaborada em inglês, outra mais curta em português) eu tentei fugir das acusasões e polêmicas e pensar na estrutura de Fora do Eixo. Enquanto escrevia, fiz um esforço enorme pra me manter neutra, tomar o que Fora do Eixo falava e fazia em boa fê, ainda apesar das minhas experiências próprias que contradiziam isso. Cheguei à conclusão que é a estrutura mesma da rede, quase como se quisesse ou não, que acaba privilegiando o Fora do Eixo como marca, meme, e entidade acima de qualquera coisa que ela produz.
O que não falei nesse artigo foram as minhas experiências de ver como o Fora do Eixo faz isso muito intencionalmente também; o que Laís fala da grande máquina de promover a marca de Fora do Eixo é completamente verdade. Ora, eu acho que a maioria das pessoas trabalhando no FdE não exergam isso como problema, já que a meta é promover e expandir a rede pra poder, através dela, hackear e alterar o mundo pro bem. Tem sim uma mania de sempre achar e promover tudo como grande sucesso e coisa mais massa do mundo. Fora do Eixo cresceu sim for do eixo Brasileiro e teve que lutar muito pra ganhar espaço, recurso, e visibilidade. Mas isso se convertiu na meta principal. É claro, é assim que se ganha mais recurso, mais poder. Os líderes de Fora do Eixo conhecem o poder da imagem—Pablo enxerga o que Fora do Eixo faz na sociedade Brasileira como uma “disputa/luta memética” e “disputa do imaginário” do país. Eu acho que isso sinceramente começou pra efeituar mudanças positivas no país—quando ganha mais legitimadade mediática o que você pode fazer no mundo material aumenta. Acho que o FdE, tanto os líderes quanto os “normais”, ainda tem essa mentalidade em geral, e que não enxergam as manipulações e mentiras que soltam como ou problema ou como mentira—-faz parte da luta. Ou talvez seja uma dessas coisas como você vê na ultra direita aqui nos EUA—você se compromete tanto com algo que vira incapaz de exergar as contradições ou a má moral. Sei lá.
Quais seriam uns exemplos desta distorção e obessão? Eu dou alguns.
-Antes do Congresso de Fora do Eixo em 2011, teve uma reunião geral da Casa em SP. Capilé tava dizendo quanto a produção de vídeos da equipe da mídia tava ruim—som ruim, montagem ruim, etc. Estavam trabalhando num vídeo de apresentação pra o lançamento do congresso oficialmente. Ele estava meio puto, dizendo que o que tinham feito era uma merda que se não podiam fazer algo fanástico ia pagar uma equipe de produção de fora pra fazer o vídeo. Ele precisava um impacto brilhante e de efeito “uáu” desse vídeo de introdução. Então tem a rede que se promove como produtor próprio e autónomo de conteudo, que vai pagar uma empresa de publicidade pra fazer o vídeo pra promover eles. Acho que eles não fizeram afinal porque o vídeo que mostraram realmente ficou ruim de som.
-Quando rolava o churrascão de gente diferenciada pela Luz, tinham mais uns 100 membros de Fora do Eixo do estado SP ficando na casa pra uma imersão estadual. Pablo ficou sabendo que já tinham umas 400 pessoas (não FdE) no churrascão, então decidiu que todos que estavam na casa iam pra lá, que iam poder chegar com 100 pessoas, uma grande demonstração da força e compromisso deles. Foi claro que a questão não era apoiar o protesto em sí, mas sim aparecer lá porque já estava bombando mediáticamente (nas redes sociais), e eles queriam a imagem associada. Se o churrascão não tivesse já bombado, não teria ido porque não daria nenhuma ventagem mediática prà rede. Foi claro pra mim que essa foi a proposta. E muitos movimentos sociais em SP e no país, além de produtores de eventos culturais, já vivenciaram este processo e já têm falado, é uma tática bem conhecida de FdE: aparecer onde tá rolando algo e colocar o logotipo do FdE, até dizer que organizou.
-De ai a tática nas produções que FdE sim faz: sobre contar o número das pessoas lá, falar que foi maravilha. Um momento disso foi o show de Emicida em São Carlos, no Grito Rock 2012, numa praça pública. Primeiro, Emicida veio sendo promovido como parceiro da galera, do sistema de hospedagem solidária, etc. Ele chegou logo antes do show, não falou com ninguem do FdE e sumiu de volta pra SP imediatamente depois. Isso foi me contado pelos próprios membros do coletivo. Claro que não ficou na casa FdE São Carlos tampouco. Mas é promovido como grande parceiro do sistema (e ele beneficia da pareceiria, claro). Agora, tinham, eu acho, umas 700 pessoas no show. Não é fácil contar número de pessoas num show, mas eu já pratico faz anos como parte da pesquisa, comparando nos lugares fechados que eu sei a capacidade; além disso, na noite anterior no SESC Rio Preto, sei que tinham umas 600 pessoas, pela contagem de venda de ingresso, e foi me claro que tinham mais ou menos esse número de pessoas no Emicida. No entanto, o show de Emicida foi espalhado como se tivesse 2000 pessoas, com uma foto tomada de um ângulo que faz parecer mostrar mais. Acho que é por ai de onde sai a estética de sempre tirar foto muito torta do FdE…são muito praticados em tirar dum ângulo que parece mostrar um aglomerado de pessoas embora só tenham 10. Isso também com coisas nos lugares públicos…vão lá como se fosse uma reunião pública com grandes discussões, mas são só eles mesmos falando as mesmas coisas. Mas promovendo, claro, como grande ato de diálogo público. Olha, eu admiro o esforço de fazer coisa pública, acho certo. Mas ganhar “lastro” no governo e com instituições por este “engajamento com o público” com estas mostras é…bom é enganoso.
-Minha primeira grande comprovoção da tática plena de distorcer a realidade foi no Grito Rock 2012 em São Paulo. Fora do Eixo tinha feito um “tuitaço” pra que o tag GritoRock aparecesse no trending topics no Twitter. Parecia uma coisa super bombando geral, ou pareceria se você não conhecia. Então eu fui ao show no Studio SP, não tinha muita pessoa, mas sim tinha todas as mulheres da Casa FdE com vestido bonito—pessoas que normalmente não iam aos shows—-os caras vestidos normais, todo mundo lá pra encher a casa. A casa não lotou nada mas foi promovido como um sucesso enorme, lotado como sempre as produções de FdE ficam, nas imagens depois “lotados” e “bombando”.
Nesse tipo de evento eu sempre fiz questão de falar, até entrevistar com gravadora, o público assistente. Tem três tipos de pessoa em geral: pessoas FdE, engajadas já; pessoas que ouviam falar mas não sabem o que é e não sabem que estão numa produção de FdE; e pessoas que nunca ouviram falar de FdE. Então o FdE vai promovendo os eventos como se as pessoas presentes chegaram lá por causa de Fora do Eixo. Mas na realidade chegaram lá como qualquer pessoa chega a qualquer outra produção: gostam dos artistas e querem ver, gostam da balada e querem comer, ou os amigos decidiram ir. Só o pessoal já engajado com FdE está lá por causa do Fora do Eixo.
Olha, eu não digo que o fato de muitas pessoas não conhecerem o FdE nas produções seja algo ruim ou enganoso. Quem presta atenção aos produtores de qualquer evento? Quase ninguem. A questão é se ou não é enganoso o Fora do Eixo usar a assistência do público dum artista, casa de shows, organização de protesto, etc. como “métrica” pra tirar ventagem pra eles mesmos com vários órgãos institucionais. Nesse sentido é bem diferente de como uma marca funcionava até faz pouco: tradcionalmente, uma marca busca fazer parceiria na produção cultural pra associar a imagem da marca à entidade cultural, e assim ganhar valor simbólico e depois financeiro com as compras de bens sob essa marca. O Fora do Eixo busca fortalecer a marca através da produção cultural—o signo da produção é a marca. Fora do Eixo sim, atualmente, produz eventos, etc. Mas o valor de FdE não vem disso, vem da imagem que ele produz (gerencia, organiza, etc), cultura. Por isso a obsessão com mostrar “quanta” cultura ela faz (30K artistas! 300 cidades!). Quem tem prestado atenção nos últimos anos com o pensamento das marcas em relação à cultura, já viu que as marcas mudaram de tática também. Elas ainda buscam se associar desse modo tradicional com o produto cultural. Mas têm visto que o valor é ainda maior quando elas participamdessa produção: seja dando grana pra produção de vídeo, concurso, estúdio, etc. etc. A Red Bull é o maior exemplo privado disso no meio de cultura (só veja a red bull music academy).
Eu digo isto porque acho errado a posição que o Fora do Eixo representa um modo de não-mercado de produção. O Fora do Eixo simplesmente aglutinou vários dos processos que a gente vê na lógica neoliberal de uma forma muito articulada e até antecipou o que agora estamos vendo no mundo de marca, finança, trabalho, e tudo mais. A lógica do capitalismo cognivito como a Bentes gosta usar (que vem de outros pensadores também). A Passa Palavra já apontou isso antes, a relação entre “auto-exploração” como o FdE fala e o imperativo neoliberal de englobar todos os aspectos da vida, o corpo e o próprio ser (como o Lazzarato fala, “a vida própria”), sob o regime de capital. O uso de cards, principalmente quando visto no argumento de pessoas como Lazzarato ou Graeber, que pensam na relação crédito-dívida, diz muito sobre isso também. Aqui não é o lugar pra elaborar isso mas terei esclareções depois. Só pra dizer que muito além de alternativa ao capitalismo, eu acho que Fora do Eixo adiantou a lógica que vinha, fazendo ela visível duma maneira nunca visto antes. Nesse sentido o Fora do Eixo é incrívelmente importante pra a gente pensar nestes processos—atual funcionamento de capitalismo em relação à imagem, tecnologia, afeto, noção de estado, sociabilidade e mais.
Eu queria falar um pouco sobre a linguagem de Fora do Eixo e também anotar que muitas pessoas não-FdE sim têm podido aproveitar dos serviços dele de uma forma positiva. Aqui não tem mais espaço, só pra dizer que sim Fora do Eixo tem um papel importante na produção cultural e em várias lutas políticas no país, principamente nas cidades pequenas no interior. Tem pessoas até que sairam da rede que não vão falar completamente mal porque apesar dos problemas que fizeram elas sairem, também tiveram experiências muito boas e vêem ainda ação positiva ali. Isso vale pra várias bandas não-FdE também.
Do outro lado, tem muita, mas muita pessoa ferrada com eles, tudo o que está saindo agora. Tem sim, na cúpula, um desejo de expandir e controlar; tem mania de controle de imagem, e sim, eu já vi, tem pessoas mais altas no processo vigilando as mais novas—indivíduos e coletivos. Eu vi, como Laís falou, claramente o desejo das pessoas poderem subir na rede, que quer dizer, mudando de coletivo pra coletivo pra, com sorte, chegar à Casa Fora do Eixo São Paulo e ser importante. Tem muita grana não paga pra bandas, tem recurso estatal dado pra um projeto sendo repassado pra qualquer coisa. Eu sei porque trabalhei nas planilhas financeiras, que, devo anotar, são incrívelmente desorganizadas. Talvez uma das razões que o FdE não pode dar numeros mais certos é porque nem eles sabem. Mas fazem a contabilidade o suficiente pra saber de onde vem a grana e pra onde apontar no futuro. De onde vem? Talvez mudou já, mas em 2011, a maioria veio da música, principalmente de cachês. Tem também muita que vem do setor público, mas tem muito mas do privado. Eu teria que ver melhor essa planilha, mas a maioria da grana é privada, me parece. Só que eu acho que toda a grana que circula não está necessáriamente nessa planilha. Se Pablo e outros tem pretensões ao poder, isso tá claro. Que tipo de pretensão e porque, não sei dizer.
Eu já falei o suficiente. Deixo o artigo em inglês e uma versão da versão em português. Estava esperando que essa última saísse porque qualquer dia vai sair editado pela IASPM-AL. Mas como não saiu ainda deixo esta versão cheio de errores de gramática. Desculpa. Desculpa este texto também que meu computador gringo imperialista quer mudar todo o português pro inglês.
Espero que tenha contribuido algo à discussão.

Shannon Garland

*PhD Candidate, Ethnomusicology
Columbia University, Dept. of Music


Papa Pop: Antônio-Minas Gerais, sugiro que vc e quem se interessar busque saber sobre o Secretário de Cultura de Cuiabá a época  Capilé, Cubo Card e seus derivados por aquelas bandas..segue abaixo o comentá rio dele no depoimento de Malu Ayres cantora de BH:
sou de cuiabá-mt. onde nasceu o “cubo mágico” germe do atual “fora do eixo”. fui secretário de cultura na capital matogrossense de 2005 a 2009 e dei muito apoio para que o grupo se estabelecesse. ao final, eles simplesmente abandonaram a cidade deixando vários “cubocards” para trás. a estrutura do fde é extremamente ditatorial, centralizadora, nociva e prejudicial para qualquer perspectiva independente e em rede. aliás, nunca foram independentes, sempre usaram dinheiro de leis de incentivo para se sustentarem. é fácil levantar isso. parabéns à malu. estou a disposição para debatermos sobre o tema.
P.S. Papa Pop do alto de sua Sanidade ( sem o T ) na sua homilia junto ao Novos Baianos discorreu sobre a captura do Projeto Pontos de Cultura pelo FDE com finalidade de fixar sua marca e nadar de braçadas no "capilé"..
Oremos..Amém..
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Edward: Analisemos o que é "novo:"

1. Artistas do Fora do Eixo são explorados nos termos da clássica crítica Marxista da economia política;
2. Os jovens produtores do FdE, midiocentristas, servem voluntariamente à autoridade da marca, nos termos de Étienne de la Boétie (1530~1575), dentro de um contexto pós-moderno (e com toda a carga pejorativa que cabe a esse termo), digital, pós operaísta, e midiático;
3. a ideia do indivíduo é diluída em função do todo; este, com excessão do líder Capilé, tem serventia apenas como uma engrenagem do mecanismo, seguindo o mesmo modelo doutrinário utilizado nas Juventudes Hitlerista e Stalinista;
 4. aplicam alguns conceitos de Jean Baudrillard (1929~2007) sobre o funcionamento da lógica do Capitalismo Avançado.
excetuando-se os conceitos de Baudrillard, o modelo adotado é antigo, copy-paste do que tem se mostrado historicamente funcional. creio ser necessário aos que pretendem fazer uma análise desse movimento compreender e definir o "novo;" até o momento, é só uma referência à idade cronológica da massa de seus participantes.

Marvo vits: EDWARD
Expresse o SEU pensamento, de preferência com originalidade.
Enfileirar citações de personagens filosóficos nos faz crer que você é uma pessoa pedante ou que não tem idéias próprias.
Tomo a liberdade de sugerir que você use a sua erudição para apresentar com maior clareza a SUA análise.
Um abração....

Anarquista Lúcida: Ele apresentou o que pensava, usando como apoio idéias de outros pensadores. Seu comentário é que é extremamente anti-intelectualista. Pensamentos e teorias sao como lentes, servem exatamente para que possamos ver os fenômenos. E isso é indispensável, para irmaos além de um mero "palpiteirismo". Que tb tem o seu lugar, claro, mas que nao deve ser um lugar único, nem muito menos endeusado por oposição a leituras com fundamentação teórica. 
Jaime Balbino: Isso tá parecendo uma discussão oculta no campo da Educação a Distância (EAD) e uso de Tecnologias de Informação e Comunicação na Educação (TICs).
Em geral os pesquisadores acham que a EAD representa uma forma tão nova de fazer educação que suplantaria o que chamam de "Educação da era Industrial". A EAD seria algo novo, coletivo, criativo, indivial, "pós-industrial", 'pós-moderno"... Esse otimismo ignora um fato importantíssimo: a tecnologia (e sua gestão) que é base das novas práticas é consequência da ERA INDUSTRIAL, foi criada para a massificação de poucas práticas e para dar suporte ao Capitalismo. A EAD (assim como o FdE, a Mídia Ninja ou qualquer proposta aparentemente contra-hegemônica) se baseia no que há de mais avançado naquele sistema que eles querem derrotar.
Então, quando se faz a análise marxista ortodoxa acusando-os de no final reproduzir aquilo que dizem estar combatendo, na verdade se está dando ênfase ao método em detrimento da análise programática. O MST não depende tanto dos meios tradicionais ou avançados de produção e por isso não pode ser definido a partir deles. É mais fácil simpatizar com o MST como um movimento da esquerda "pura": Uma cooperativa de agricultura familiar, por mais Liberal que seja essa prática, num assentamento que já foi um latifúndio, não desperta a crítica irada de nenhum marxista.
Mas qualquer movimento urbano que use estratégias da esquerda pragmática é passível de sofrer essa crítica enviesada que fazem ao FdE. "Divulgação Cultural" nem é um conceito do marxismo clássico.
Nassif acerta na análise, pois separa o que é importânte do que é picuinha ideológica e despeido.


JB Costa:
Descrição: Re: Fora do eixo: obstáculos brasileiros ao aparecimento do novo


Luiz M. de Barros:
Estou feliz por encontrar aqui mais simpatia do que receio com os Ninjas. Alias "Narrativas independentes, jornalismo e ação
Como disse Mauro Santayana na “Revista do Brasil” de março 2011 “O parto de uma nova idade” . Trecho final:
“Está surgindo uma nova idade no mundo: o sistema de poder, dominado pelos banqueiros, que faz e desfaz governos, controla a ciência e a tecnologia, determina a vida e a morte de povos inteiros, começa a ser visto em seu horror pelas grandes massas. O que virá depois, não sabemos– mas as dores do parto desse novo tempo já se fazem sentir”


morgana profana:
Titia já falou lá no outro post, e repete aqui, como um gramophone cacófano:
Não há "novidade" apresentada pelos meninos "fora do eixo", e suas múltiplas manifestações (polimórficas).
O que estamos assistindo é a velha re-arrumação das formas industriais de controle de disseminação de informação, que nos momentos de transição deixam um espaço para experiências democratizantes e horizontais, que logo, logo, são incorporadas pelo esforço de controle ideológico das classes que assumem o papel hegemônico.
Tio Nassif parece encantado com a "forma", e esquece o "conteúdo".
Titia falou no outro post, e repete aqui. Sugiro a leitura de: O camelô: figura emblemática da comunicação, de Jean-Yves Mollier.
Ainda que reconheçamos um papel desafiador e, de certa forma, desestruturante destas experiências, como foram os movimentos de "contra-cultura" da década de 60, o fato é que mantido intacto o estamento de classes, estas "brincadeiras" detém apenas um jargão estético de confronto, mas que apenas reproduzem de forma atomizada a manipulação e a dominação.
Comunicação não é um fim em si, é meio.
E não há nada de "novo" em novas formas de comunicar se elas não trazem a mensagem de ruptura.
É preciso romper com estes dogmas e fetiches(de fetiche titia entende) tecnológicos.
A mudança da pintura para a fotografia não permitiu retratar o mundo, os dominados e os dominadores de outra forma. Eles continuaram lá, com seus papéis intactos!
A disseminação da escrita e da leitura, antes monopolizadas pelos monges em seus monastérios, e depois pulverizada em jornais, livros, revistas e almanaques, não alterou a dinâimca da luta de classes.
É isto que titio Nassif parece querer esquecer...

Titia sabe, tem horas que a gente quer se alegrar, ou se enganar para suportar o incômodo de viver neste mundo injusto...


Gilberto :

O novo (ou o new), convém lembrar, é uma palavra muito utilizada pela propaganda para nos vender os mesmos velhos produtos de sempre, em nova embalagem.
Tenho procurado analisar a trajetória do FdE de maneira isenta. Me agradam em Pablo Capilé e Bruno Torturra o vigor, o entusiasmo e a força com que trabalham um conteúdo bruto, sem firulas, direto. Não é algo realmente novo, mas algo que deve ser retomado sempre. Estruturas enxutas, baixo custo de produção, idéias claras na cabeça e midias contemporâneas na mão.
De antigo nesta embalagem, a pouca informação concreta sobre a origem, aplicação, gastos e lucros aferidos nos projetos. Se a produção do bem ė horizontal, o mesmo ainda não se pode dizer da estrutura. Nada mais obscuro e antigo que o site (http://foradoeixo.org.br/)do FdE. Começam entretanto a aparecer demonstrações do FdE no sentido de esclarecer este ponto. Há promessas de Pablo em sua página no Facebook de responder a questionário feito por André Forastieri, concedeu uma entrevista sobre estes temas na Uol e irá dar uma entrevista ao Rovai na revista Forum, hoje às 20 horas. Ė um ótimo sintoma que ele coloque sua cara a tapa e não se recuse a esclarecer estes pontos.
A oportunidade do FdE é excelente. Se são de fato novos, ė uma excelente chance para corrigir erros existentes em qualquer projeto que se agiganta e corresponder às expectativas daqueles que apostam suas fichas em seu trabalho. Esperemos antes de julgar. E não confundamos crítica com julgamento.


esquiber:
O pós-rancor e o velho Estado: uma crítica amorosa à política do Fora do Eixo – Passa Palavra

É fácil perder-se diante de um emaranhado de conceitos desconexos que, através de retórica apocalíptica, almeja integração orgânica ao sistema, estabelecida a partir de um consenso de amplas bases no campo da produção cultural. Por Regis Argüelles [*]

A obra de arte reproduzida é cada vez mais a reprodução de uma obra de arte 
criada para ser reproduzida. […] Mas, no momento em que o critério da autenticidade 
deixa de aplicar-se à produção artística, toda a função social da arte se transforma. 
Em vez de fundar-se no ritual, ela passa a fundar-se em outra práxis: a política.
Walter Benjamin, A Obra de Arte na Era da sua Reprodutibilidade Técnica

Não se passaram mais de três anos desde que soube da existência de certo coletivo de cultura que atuava especialmente na esfera da música independente. Naquela época, dizia-se que as ações de tal coletivo concentravam-se na realização de festivais pelo Brasil, de preferência em localidades que estivessem à margem do eixo cultural hegemônico. Assim, bandas e demais profissionais coletivamente divulgariam seus trabalhos, aproveitando-se do imenso vazio cultural a que estão submetidos aqueles que, por devido infortúnio, viviam desprovidos da produção musical independente do país.

Descrição: roland-topor-6O “Circuito Fora do Eixo”, o coletivo em questão, define-se como uma “rede de trabalhos concebida por produtores culturais das regiões centro-oeste, norte e sul no final de 2005”, que, inicialmente, conectou produtores das cidades de Cuiabá (MT), Rio Branco (AC), Uberlândia (MG) e Londrina (PR). De lá para cá, entretanto, o coletivo ampliou sua área de atuação: está hoje em 25 dos 27 estados da federação — inclusive no “eixo” Rio-São Paulo, como faz questão de destacar em seu sítio — e busca conexões mais orgânicas com outros países da América Latina.[1] Ao que tudo indica, o Fora do Eixo (FdE) obteve êxito em relação à sua proposta inicial de fomentar o trabalho de artistas e produtores culturais de regiões diversas, que comumente estariam alijados de participar dos circuitos tradicionais de financiamento de cultura.

Uma das figuras-chave do FdE é Pablo Capilé, produtor cultural originário de Cuiabá. Segundo ele,[2] o coletivo começa a tomar forma por volta de 2000/2001, naquela cidade, a partir de uma casa alugada com o objetivo de agregar músicos, estudantes de publicidade e afins — futuros produtores culturais? — e de enfrentar os desafios da nova configuração do mercado de música. Servindo como espaço de ensaio para as bandas (e também, imagino, para o estudo compenetrado de textos de Baudrillard por parte da galera que não sabia tocar, os universitários), a convivência na casa estimulou a discussão entre músicos e demais “agitadores” sobre as leis de incentivo para que, de maneira colaborativa, conseguissem “ocupar mais espaço”. Em outras palavras, o coletivo se organizou no sentido de ganhar editais públicos e privados de financiamento, capazes de capitalizar vôos mais altos de bandas e produtores associados.

A coisa não para por aí. Capilé destaca que, recentemente, o FdE passou a atuar no aparelho de Estado stricto sensu, “trabalhando para a eleição de vereadores em alguns estados, posicionando secretários de cultura em outros”. [3] Trata-se, portanto, da efetiva transformação de mero concorrente de editais de financiamento em um aparelho orgânico de atuação no tecido político institucional, com todas as benesses e contradições que tal posição, necessariamente, engendra.

Um movimento com essas características precisou ampliar os processos de replicação de um discurso capaz de fornecer suporte necessário à agregação dos interesses diversos de produtores de cultura de todo país. Nesse sentido, o “conceituador” Capilé aponta para dois projetos ambiciosos: primeiro, a criação de uma Universidade, a UniFDE, responsável pela sistematização de todo o processo de formação do circuito; e a organização do Partido da Cultura (Pcult), “um núcleo de contaminação constante de um processo de organização das políticas públicas desenvolvidas por esses coletivos”.[4] Em outro lugar, o Pcult é definido como

“um fórum informal, ambiente supra-partidário permanente [que] trabalha para que a Cultura, tanto quanto educação e saúde, seja tema central dos debates políticos eleitorais, nas campanhas que acontecem a cada dois anos no país e no desenvolvimento do Sistema Nacional de Cultura, aglutinando diversas entidades, redes, movimentos e pessoas de todos os estados do país em torno de temas diversos, sempre na esfera cultural.” [5]

Descrição: roland-topor-4Parece que estamos diante de um quadro no qual o FdE eleva-se à condição de portador de uma nova proposta de organização material da cultura, ainda que subordinada à organização partidária institucional e às leis mais amplas de reprodução do sistema do capital. Um dos indícios desta condição é a moeda Cubo Card, um sistema de créditos que funciona como forma de pagamento entre os participantes da rede de trabalhos: “O Sistema tornou-se referência para a replicação (leia-se remuneração?) nos coletivos do Circuito FdE, gerando a construção do Banco Fora do Eixo Card”, informa o sítio do coletivo.

Universidade, Banco, Partido… existem limites para o FdE? Um radiante Capilé constata que as adesões à rede são cada vez mais conscientes e voluntárias, evidenciando que hoje vive-se na era do “pós-rancor”, em contraposição à “sociedade do rancor, típica do século XX”. A profª Ivana Bentes (ECO-UFRJ) aponta que o FdE é uma das experiências coletivas mais capazes de influenciar políticas públicas, além de constituir (junto com outros movimentos, como as marchas)

“a base de um novo ativismo contemporâneo, a emergência do precariado cognitivo, […] da percepção que o sistema trabalhista fordista e previdenciário não dão mais conta da dinâmica de ocupações livres (mesmo que frágeis e sem segurança) no capitalismo de informação” [6].

Os modelos contemporâneos de circulação de valores monetários e de sociabilidade justificam a organização “solidária e em rede” do FdE e de demais lutas. Afinal, “não é só o capitalismo financeiro que funciona em fluxo e em rede, veloz e dinâmico. As novas lutas e resistências passam por essas mesmas estratégias”, afirma Ivana Bentes. [7] Para aderir às “novas” lutas é simples: bastaressignificar-se, ou seja, compreender que a sociedade da cognição (cognitariado, informação, multidão, pós-marca, etc.) impõe determinados fluxos — e que os movimentos sociais e de cultura devem adequar-se aos mesmos, sob pena de perderem o bonde da história.

Descrição: roland-topor-2Abane a cabeça, leitor; faça todos os gestos de incredulidade. Afinal, diante de tal guerrilha semiótica, o chamado à realidade de Machado de Assis me parece mais que apropriado. É fácil perder-se diante de um emaranhado de conceitos aparentemente (propositalmente?) desconexos que, através de retórica apocalíptica (o fim da sociedade do rancor, que nada mais é que o fim da luta de classes, de acordo com a lúcida análise de José Arbex Jr [8]), almeja em verdade integração orgânica ao sistema, estabelecida a partir de um consenso de amplas bases no campo da produção cultural. Resta saber se o crescimento vertiginoso do FdE autoriza-o a figurar nas posições de intérprete vivaz do mundo contemporâneo e direcionador de políticas públicas de cultura. A seguir, procuro demonstrar que, nesses casos, recomenda-se máxima cautela.

As mais contundentes críticas à avalanche discursiva pós-ideológica produzida pelos intelectuais ligados ao FdE pousam, curiosamente, em questões materiais. China, músico pernambucano e VJ da MTV, um dos pivôs do dissenso, fulmina:

“Eu vivo da música e preciso receber os cachês dos shows para conseguir sobreviver. Ainda não estão aceitando cubo card na padaria e em nenhuma conta que eu tenho [sic] que pagar no fim do mês”[9]

Vejam só, aqueles que produzem arte, ou ainda, aqueles que investem a maior parte de suas energias em objetos artísticos estão também inseridos em uma economia de mercado e, por isso, dependem de rendimentos para continuarem vivos e produzindo aqueles objetos. Até aí, nada de novo no front. A proposta de oferecer uma moeda qualquer como pagamento tenta inovar na remuneração e na circulação de formas artísticas, o que pode até soar interessante, mas esbarra em um problema material: “não estão aceitando cubo card na padaria”. [10]

Não é difícil compreender que a organização de um festival de música é custosa. Além do cachê dos artistas e demais profissionais, existe uma série de questões que precisam ser equacionadas, tais como alimentação, segurança, atendimento médico, transporte, etc. Custa grana, e não é pouca, o que torna incontornável o problema do financiamento de cultura. Os movimentos pós-ideológicos, a despeito da postura cínico-crítica em direção à sociedade do século XX, apelam sem maiores pudores para o velho Estado quando o assunto é capital para suas empreitadas culturais.

A posição de campeões dos editais públicos de cultura foi responsável por mais questionamentos às práticas do FdE. Na visão de Álvaro Pereira Jr., o Brasil virou a terra dos indies estatais, onde “o viés ideológico direciona os recursos estatais [e] estar aliado à política cultural do poder é crucial”, sendo o FdE apontado como expressão maior, a personificação do indie de Estado[11] De acordo com um dissidente da Associação Brasileira de Festivais Independentes (ABRAFIN), a entidade, sob a gestão do FdE, vem concentrando seus esforços em direção aos incentivos estatais, não avançando no mesmo sentido quando o assunto é a iniciativa privada. [12] Um coletivo que recentemente saiu do FdE deu a entender que a atividade política tem consumido de tal forma alguns agentes, ao ponto de se tornar uma ameaça aos ideais fundantes do movimento. [13]

Descrição: roland-topor-5Na verdade, relações orgânicas entre intelectuais e Estado stricto sensu não são novidade no Brasil. O peso específico do Estado na formação social brasileira foi um dos elementos determinantes da relação de “cooptação” de intelectuais que, a fim de efetuarem suas compras diárias na padaria e na botica, acabavam por ocupar algum cargo na burocracia civil ou militar. Uma vez à sombra do poder, não era imperativo que o homem de cultura do Império, da República Velha ou do Estado Novo flexionasse sua prática criadora rumo à ideologia dominante (embora muitas vezes o fizesse); em realidade, lhe era aberto todo um leque de modos de pensar não-apologéticos, conquanto que a discussão sobre a estrutura do Estado que permitia a criação “livre” e “intimista” prosseguisse intocada pelo nosso intrépido artista, tal qual se observa no culto à subjetividade promovido pelo romantismo e pela contracultura (COUTINHO, 2011, p. 49).

Apesar da perenidade observada nas relações entre intelectuais e Estado, elementos interessantes complexificaram o quadro esboçado acima, a partir de meados dos anos 70, em plena ditadura militar. A Política Nacional de Cultura, institucionalizada pelo governo do general Geisel, teve por objetivo o investimento direto do Estado em produção cultural, aproximando-a de moldes empresariais, cuja profissionalização e a conquista de mercado eram pontos essenciais. Nos anos Figueiredo, artistas e produtores culturais vivenciavam um momento de maior espaço para a produção, que, por sua vez, já se enquadrava dentro dos parâmetros de uma indústria cultural de massas. Desta feita, a associação entre produto cultural e mercadoria encontrava-se, naquele período, em bases suficientemente sólidas. A simbiose entre mídia e mercado, amplamente disseminada desde então pela TV, aumentou as possibilidades de associação entre mercadoria e produto cultural, ao colocar, por exemplo, a propaganda daquele sabão em pó no enredo de sua novela favorita. [14] Estava, portanto, pavimentado o caminho para a ampla atuação de um tipo de intelectual no cenário cultural brasileiro: o produtor cultural, responsável pela conexão entre os trabalhos de arte e os detentores dos meios de difusão das obras (monetários e materiais), e a consequente capitalização dessa relação para ambas as partes — e, é claro, a garantia de remuneração pelo próprio trabalho.

Descrição: roland-topor-7Enquadrada dentro de uma indústria cultural convulsionada pela livre troca internetiana de arquivos digitais, restou à rede de trabalhos do FdE apelar ao porto seguro do Estado, o velho mecenas da cultura nacional. Decerto, o Estado que financia as ações do coletivo não tem mais aquela carranca associada à ditadura militar; repaginado pela Terceira Via, pelas teorias políticas pós-modernas, pelo “Lulinha paz e amor” — evidências da inversão ideológica ocorrida dentro do PT e de outros setores da esquerda brasileira — ostenta aparência de um “vovô garoto”, livre do ranço burocrático e ideológico da “sociedade do rancor”. Todavia, esse novo Estado investe em determinada produção cultural incapaz de colocar em questão a estrutura material de dominação assegurada pelo próprio Estado, cujo efeito é encapsular a produção artística aos condicionamentos objetivos das relações de poder.

A associação acrítica ao aparelho de Estado e à lógica empresarial são operações comuns em movimentos socioculturais alimentados por certos esquemas teóricos pós-marxistas e pós-modernos, como é o caso do FdE. E dificilmente poderia ser de outro modo, na medida em que boa parte daqueles esquemas prega a autonomização absoluta da cultura e do trabalho imaterial em relação às condições materiais de produção e ao trabalho material. Nesses termos, a dificuldade de negociação de cachês ficaria atribuída a um problema de cognição dos pernambucanos; a importância do FdE estar na cidade de São Paulo residiria no fato desta ser um “simulacro da Babilônia”. A própria noção de materialidade das teorias “pós” fica obscurecida pela subsunção da matéria a um significante, a uma contingência radical ou a pura heterogeneidade. Esse tipo de argumentação promove o colapso do mundo material em um tipo de exterioridade/meio que abre caminho para a produção abstrata de ideias (McLAREN e FARAHMANDPUR, 2002).

O projeto ambicioso do FdE parece agora refém de seu próprio nó conceitual, pois todo este aparato parece não responder satisfatoriamente aos questionamentos econômico-políticos promovidos por músicos que resistem à ideia de virarem “artistas pedreiro” (a profissão concreta de pedreiro, massificada pelo século do rancor, ainda oferece remuneração aceita na padaria) ou que veem com reservas tanto uma associação deveras orgânica ao Estado quanto o próprio método de atuação política do coletivo. Ou melhor, as respostas oferecidas até então apenas reforçam a circularidade do discurso do FdE, mesmo quando o assunto é a produção cultural de todo um estado da federação (“o problema de Pernambuco é cognitivo”).

Evitando estar tão certo da minha posição como estão, contraditoriamente, os intelectuais que pregam o fim das metanarrativas, penso que o problema da cena musical independente de Pernambuco passa por uma questão material. Negá-la — ou obscurecê-la com um conjunto de argumentos e conceitos — significa perder a proteção discursiva autorreferente e “revelar suas próprias afiliações de classe e a ideologia que faz sua lógica interna aparentar um sistema lógico universal” (EBERT e ZAVARZADEH, 2008, p. xxi). Talvez seja a própria negação da influência das relações materiais no plano sociocultural que permita a Capilé sugerir o apoio da Coca-Cola à “Marcha da Liberdade”, [15] argumentando que hoje as empresas buscam um contato direto com os movimentos sociais, sem que seja necessária a exposição de sua marca. Da mesma ordem foi posicionar-se contra a possibilidade da Marcha reivindicar ao poder legislativo um projeto de lei que obrigue a polícia a fazer uso de armas “menos letais”, quando se trata de reprimir manifestações — afinal, não era necessário, para o coletivo, pautar qualquer coisa além da “própria ideia de liberdade”. [16]

Descrição: roland-topor-3Em suma, a posição política do FdE acaba por capitular diante da lógica totalizante e homogeneizante do capitalismo, e do papel do Estado na reprodução desta lógica. Como afirmou Ivana Bentes, “o FdE entendeu que o modelo da produção cultural é o modelo de funcionamento do próprio capitalismo” [17]. Tal argumentação chega a ser alarmante, dado que esse modelo de funcionamento vem convulsionando-se em larga escala nos últimos 20 anos e, mais recentemente, submeteu a economia global a uma crise sem precedentes, cujos efeitos ainda são sensíveis. O que pensar então da produção musical independente submetida a tal lógica autodestrutiva?

O mais curioso nisso tudo é que as manifestações mais inovadoras em resposta à crise do capital (e a consequente tendência em aumentar seu caráter predatório) vêm pautando o papel das grandes corporações, do Estado e da grande mídia na manutenção de um sistema de exclusão econômico-política real da maioria. Um exemplo é o Occupy Wall Street (OWS) e suas derivações por todos os EUA que, ao mesmo tempo que usam e abusam das novas possibilidades de conexão e distribuição de mídia disponíveis no mundo virtual, convocam greves gerais, boicotes às grandes empresas, realizam assembleias ao ar livre (com presença de movimentos sociais de todas as matizes) e apontam para uma democracia horizontal (“We are the 99% [Somos 99%]”). A resposta do Estado — atuando com apoio explícito das corporações — a esses movimentos tem sido dura, dadas as demonstrações violentas de desocupação pela polícia, as prisões em massa e demais arbitrariedades. [18]

Não podemos nos esquecer de que o “pós-modernismo”, hoje (ainda) considerado theoretical chic por boa parte da academia, já possui nada menos que 20 anos de disseminação na realidade cultural brasileira. Não é pouco tempo. Assim, cabe a pergunta: no mundo global volátil e randômico, dado a crises e mudanças repentinas, ao sabor do fluxo virtual de ideias, não seria a política de “esquerda nos eixos” que estaria perdendo o “bonde da história”?

Notas

[*] rarguelles@gmail.com. Baixista indie desempregado (ex Supercordas, The Cigarettes, Stellar, Superbug, A Lydie, 4-track valsa, Polystirene), professor de história e doutorando em educação pelo PPGE/UFRJ. O autor gostaria de agradecer a Kátia Abreu e Felipe Demier pela leitura e sugestões valiosas.
[1] Aqui.
[2] Aqui.
[3] Idem nota anterior.
[4] Ibid.
[5] Aqui.
[6] Aqui.
[7] Idem nota acima. A prof. Ivana Bentes desponta como uma das principais teóricas do modus operandi do FdE, defendendo posições claramente conservadoras que assemelham-se à ironia pós-moderna do “capitalismo plus outras opções”, recentemente verbalizada por um dos maiores expoentes do campo. Conforme veremos adiante, os limites das políticas da pós-modernidade residem justamente na impossibilidade do discurso criticar as relações sociais subordinadas ao modelo de reprodução binário do capital. Sua linguagem altamente complexa acaba por operar dentro dos limites do fluxo de capitais, que, por sua vez, é um dos fenômenos de maior relevância para a manutenção do status quo. Não criticá-lo (“não existe outro mundo”) significa, no mínimo, abster-se da possibilidade de uma atuação política emancipada.
[8] Devidamente replicada pelo artigo “A Esquerda nos Eixos e o novo ativismo” de… Ivana Bentes. (Aqui.)
[9] Aqui. De acordo com o próprio Pablo Capilé (aqui, em 20/12/2011), o FdE encontra-se em “crise diplomática” com Pernambuco, tendo retirado suas bases deste estado. Em uma fala extremamente rancorosa, o produtor cultural acusa Pernambuco de ser o estado da federação que personifica a “lógica do rancor” e, destarte, está hoje isolado e estacionado no plano cultural nacional. Em suma, Pernambuco não soube “ressignificar-se” e adequar-se aos novos tempos do mercado de cultura, que é protagonizado pela proposta organizativa do FdE.
[10] Fui alertado que a remuneração via cubo card hoje está restrita aos participantes efetivos da rede FdE. Assim, os artistas de maior público que se apresentam nos festivais do FdE recebem em reais, o que não deixa de ser uma contradição em termos, pois parece que a condição de “artista pedreiro” só serve para alguns. Uma boa discussão sobre o assunto encontra-se aqui.
[11] AquiVer também aqui. O jornalista Álvaro Pereira Jr. foi agraciado com uma réplica de Pablo Capilé (“Adeus ao sr. Pereira”, aqui).
[12] Aqui.
[13] Aqui.
[14] Ver PELLEGRINI, T. Aspectos da produção cultural brasileira contemporânea. Aqui.
[15] Ocorrida em 28/05/2011, na cidade de São Paulo, que contou com a participação de milhares de pessoas.
[16] Aqui. Esse texto apresenta uma excelente análise dos pressupostos teóricos e contradições do FdE, definindo o coletivo como “uma classe de gestores que visa renovar a burocracia”.
[17] Ver nota 5.
[18] Aqui.

Bibliografia

BENJAMIM, W. Conceptos de Filosofía de la Historia. La Plata: Terramar, 2007.
COUTINHO, C. N. Cultura e sociedade no Brasil: ensaios sobre ideias e formas. São Paulo: Expressão Popular, 2011.
EBERT, T. & ZAVARZADEH, M. Class in culture.
Boulder, CO: Paradigm Publishers, 2008.
McLAREN, P. & FARAHMANDPUR, R. Breaking significant chains: a marxist position on postmodernism. In: HILLet al. Marxism against postmodernism in educational theory. Lanham, MD: Lexington Books, 2002.
PELLEGRINI, T. Aspectos da produção cultural brasileira contemporâneaAqui.


esquiber:
Em 2011, as marchas da liberdade foram as primeiras a provocar o choque entre a mencionada convergência e uma militância por assim dizer mais dura, de parcela da esquerda fora do poder. Num ano marcado por intensos protestos de rua e ocupações urbanas, a chegada à cena do agrupamento nutrido no MinC lulista (e em verbas captadas no estado e mercado) rapidamente se converteu numa grande polêmica. Exprimindo descontentes da Esquerda Dura, o coletivo Passa Palavra (PP) denunciou numa série de textos o coletivo-empresa Fora do Eixo (FdE) e a Casa da Cultura Digital. As palavras foram às brasas. Seguiram-se centenas de intervenções online e pelo menos quarenta artigos diretamente sobre a questão.
Basicamente, o Passa Palavra os acusa de se comportar como um vírus.
Como se sabe, o vírus se compõe de um ácido nucléico autorreplicante (RNA ou DNA) e uma capa proteica. A capa serve de disfarce para o vírus infectar as células. Uma vez dentro, o vírus libera o RNA e força a célula a trabalhar para ele e reproduzi-lo. São parasitas intracelulares e ficam inertes até hackear outro organismo, num processo onde o segredo está na capacidade de enganar. Contrariamente ao que se pensa, o mundo do vírus é extremamente diversificado. “Os vírus representam a maior diversidade biológica do planeta, sendo mais diversos que bactérias, plantas, fungos e animais juntos.” (Wikipídia)
O PP acusou o FdE de ser um vírus, com a capa proteica de ativismo descolado e o RNA de empresa capitalista. O FdE disputaria redes de movimento para parasitá-las. Estaria infectando o campo da esquerda, atrás de vítimas incapazes de perceber a sua malícia. Mas como, se não rola grana? Para parasitar a imagem de rebeldia, a estética alternativa ou indie, a força simbólica de movimentos da geração, como o 15-M e o Occupy. Uma vez colada a marca sobre o imaginário, vertem as verbas de publicidade, da parte de empresas interessadas em colar seus produtos à riqueza simbólica associada. Não à toa se interessem, principalmente, por marchas e ativismos em áreas abonadas das metrópoles, já que ali, potencialmente, estará o público consumidor dos produtos alternativos, de estilos de roupas, cervejas cool e festivais de rock. Impressionante como o fetiche da gestão horizontal de redes rapidamente se esgota num empreendedorismo parasitário com ar de radical chic. Essa acusação encorpa se forem analisadas certas falas do próprio FdE. A ideia de meme, por exemplo. O meme é o que pega, fragmentos que se replicam e disseminam descontroladamente. É um símbolo forte que subitamente está em todo o lugar, como um jingle que não sai da cabeça, ou um vídeo inusitante no youtube, ou uma sacada audiovisual, e às vezes isso nasce das coisas mais banais. Ora, essa é a lógica mesma da publicidade, que representa conteúdos, que presentifica a ausência e, por isso, sobrevive de uma falta induzida. É esvaziar a materialidade das relações sociais e vender o espetáculo das marcas e estilos: capital = exploração da vida, e simbólico = representativo. E o gene egoísta? Por causa disso, falar em “ressignificação” é sempre muito pouco: fica no plano simbólico. Você pode achar o meme mais viral do universo e ainda assim não sair do looping (embora possa ficar rico).
Por outro lado, os grupos da cultura livre não têm problema em se ver como vírus. Vários também se consideram vírus, com a capa proteica do estado e do mercado, e o RNA de revolução, de novas lutas. O FdE disputaria as redes de financiamento do estado e do mercado para parasitá-las. Estaria infectando os campos do poder constituído, atrás de vítimas incapazes de perceber a sua malícia. Afinal, rola grana, muita grana. Como os vírus, esse horizonte de afirmação biopolítica ficaria inerte sem sugar as energias produtivas e reprodutivas do próprio capitalismo. Uma luta dentro e contra. A inspiração virótica da turma, obviamente, é o MinC de Gil e Juca, que começou a hackear o estado brasileiro com o DNA dos movimentos 2.0. Nesse sentido, a acusação do PP é esquerdista, purista e sectária. Não percebem como organizar a produção já é política e não pode haver resistência senão pelo interior dos circuitos de valorização capitalista e dos aparelhos de captura. E daí que o FdE abraça impudentemente a linguagem do comércio e da mercadoria? É o pastiche irreverente contra toda austeridade do alto modernismo (velhaguardista!), contra a monotonia da emancipação humana e suas passeatas à francesa. É sempre triste o apelo à superioridade moral do esquerdismo, com seus miseráveis sacerdotes do sofrimento universal.
Ano passado, nos calores de um ano que não acabará tão cedo, o Quadrado dos Loucos interveio nesse debate tão movediço. Tentei derrapar pela tangente da dupla dicotomia. De um lado, os dicotômicos submarxistas: puros x impuros; do outro, os dicotômicos futuristas, analógicos x digitais.Os dois lados óbvios da contenda estão míopes. Em síntese, procurei sair das dualidades infernais, muito preliminarmente, pela via de Marx, para afirmar que o FdE, como expressivo de uma nova composição, é as duas coisas. Simultaneamente, seus agentes parecem executivos workalcoholics de uma multinacional, sempre atrás de mais negócios e parcerias; e parecem leninistas disciplinados, como numa vanguarda coesa; em ambos os casos a efígie do Partido/Empresa acima de tudo, investidos de sua subjetividade, o guarda-chuva sob o qual tá junto tá junto. São vários vírus num ecossistema mais complexo. Onde há capital, habemus resistência e reexistência. A relação do capital opera com dois pólos, duas subjetividades em confronto, mas as coordenadas desse confronto são tão múltiplas quanto as formas de viver e produzir na sociedade.
Nesse ponto o leitor deve estar se perguntando se a postagem vai concluir novamente como fazia o Padre Vieira, barroco e retórico, mas sem se comprometer com nada. Os dois lados contestaram este blogue. Os primeiros, sempre invocando o verdadeiro compromisso com a classe trabalhadora, acusam o QdL de se autoenganar burguesamente com pós-modernismos. Os segundos, que como bons empresários conhecem o ofício e não se interessam por “abstrações” (a menos que favoravelmente publicitárias), afirmam que falta generosidade por parte de certos yntelektuais.
Onde traçar a linha? Por mais molecular e sambista, não haveria uma ou umas linhas? Onde a contracultura se converte em ideologia liberal e ranço antimilitante? Onde o tropicalismo e a Esquerda rangem? Como articular a defesa dos comuns e da produção do comum, com o avanço capitalista e empresarial nesse campo? Onde a cultura livre se atrofia como culturalivrismo, a cultura digital como digitalismo? Como se orientar no plano multiestratificado da cultura, política e economia, isto é, da biopolítica, com suas velocidades alucinadas e suas perplexidades, sem perder de vista a urgência das lutas? Em que ponto, se pode dizer que a resistência e a reexistência são mais fortes do que a exploração e a captura? Onde termina a revolução e começa a contrarrevolução? Como subir a montanha e, ao descer, dar uma resposta a quem ficou? Adam Smith, Saint Simon, Karl Marx, André Breton, o fio vermelho, o salto do elétron?
Temas da segunda parte do artigo, quando pretendo abordar o terceiro gênero que irrompeu da querela e uma “das coisas mais importantes que saíram nos últimos tempos“, o texto O Comum e a Exploração 2.0, pela rede Universidade Nômade.


Diogo Costa:
APRISIONAMENTO IDEOLÓGICO E SUBPRODUTO LIBERAL - Fora do Eixo e Mídia Ninja, depois do furor da entrevista no Roda Morta, na última segunda-feira, a situação tende a se acalmar e os muitos questionamentos serão parcialmente respondidos. 

É muito cedo para conclusões apressadas ou para teses definitivas. Talvez não seja cedo para reavaliar como um todo a política cultural no Brasil. 

É uma política eminentemente liberal, cujo arcabouço legal vem lá do governo Collor, através da Lei Rouanet. São renúncias fiscais (já chegam a mais de um bilhão de reais) que propiciam que pessoas físicas ou jurídicas abatam parte do Imposto de Renda através do financiamento de projetos culturais. 

O mérito inegável do FdE e dos 'Ninjas' é a sua movimentação, a sua ousadia de criar algo novo, ou 'novo', enfim. 

Mas o debate principal é que o FdE, por exemplo, é um subproduto (no que tem de bom e de ruim) de uma política cultural equivocada, de corte liberal. Se tem um tema que deveria ser discutido, e muito bem discutido pela esquerda, é a tal de Lei de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet). 

A ditadura militar e o ciclo neoliberal rebaixaram muito a disputa ideológica e programática no Brasil. 

Quem já teve o imenso prazer de ler o projeto de lei das Reformas de Base de Jango (e lá se vão quase cinquenta anos do projeto), sabe o quão rebaixado está o debate programático e as teses de boa parte da esquerda atual. 

Vivemos hoje num país colonizado mental e ideologicamente, aprisionado por inúmeras das teses dos vencedores de 64, de 89 e de 94-98. 

Vencer essa colonização ideológica liberal e montar uma nova política cultural, aí está o grande desafio. E vale para outros tantos setores da vida em sociedade, como educação, saúde e previdência, por exemplo.


Maria Fulô:
Mas meu caro Turquinho, é só ler a "Ordem do Discurso" de Foucalt para entender que está tudo lá... os que controlam a "ordem" jamais quiseram o novo ou o diferente, porque o que está dentro da "ordem" é por eles dominado e o novo pode afasta-los do comando. Jamais acreditei nesta balela do "à frente do seu tempo", porque ninguém está à frente do seu tempo pelo simples fato de que não existe um tempo futuro à nossa espera já acabado. Na verdade, os que são rotulados como "à frente de seu tempo" foram sistematicamente interditados pelos controladores da ordem do discurso vigente e somente quando ela for substituida por outra, coisa que pode levar décadas, é que podem mostrar o seu trabalho. A resistência ao novo é a luta pela sobrevivência dos que controlam o discurso... que no caso da nossa grande Imprensa já não sabe o que fazer para disfarçar seu anacronismo.

Anarquista Lúcida:
É. Mas para aplicar Foucault ao caso do Fora do Eixo, talvez o mais adequado seja o conceito que ele tem das instituições totais (nao me lembro do nome que ele dava), como conventos, prisoes, internatos, quartéis, em que as pessoas praticamente nao têm contatos com o exterior, trabalham, vivem, têm relações afetivas só dentro do grupo. É isso que me deixa preocupada com relação ao que li sobre o grupo. Com práticas de adoração ao líder, etc. Para mim, isso é comportamento de seita, nao tem nada de revolucionário nisso. 
Inclusive já citei, noutro tópico, grupos dos anos 70 que viviam exatamente assim. 

Gilberto:
Sociedade Disciplinar e seus sucedâneos como a Sociedade de Controle? Tem um bom resumo no site da Universidade de Lisboa aqui




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