quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Aumentando a pressão

Por Miguel do Rosário - em seu blog

A guerra eleitoral intensifica-se. A criação de factóides pela imprensa atingiu um ritmo febril, e que por isso mesmo torna-se enfadonho e cansativo para a maioria. Colunistas carregam nas tintas contra o governo e sua candidata, mas as pessoas se entediam ao ler esses radicalismos. E Dilma permanece intacta nas pesquisas. O único perigo, de ordem institucional, que seria produzir um clima negativo que desse subsídios para um golpe branco, via Justiça Eleitoral (o famigerado tapetão), também parece afastado - ao menos por enquanto.

A banalização das denúncias advém da própria imprensa, que as acolhe sem critério, sem nenhum disfarce quanto a seus objetivos eleitorais. É claro que existe corrupção no governo federal, mas o combate a ela não pode ser feito através de campanhas de desestabilização política e sim através do fortalecimento e modernização das instituições de controle e auditoria.

Ontem tive a honra de dar palestra numa universidade privada do Rio, a Facha, juntamente com meu colega Igor Bruno, candidato a deputado estadual e também blogueiro. Mediando o debate, um professor de lá declarou que os grandes jornais tornaram-se material de campanha de José Serra, com o que eu concordo, e afirmou que ninguém mais acredita neles, com o que discordo. Essa imprensa ainda é extremamente perigosa, e o barulho que a Veja produziu esta semana prova isso.

O máximo que a frenética produção de factóides tem produzido, no entanto, é tirar alguns pontos de Dilma junto aos mais ricos - e que ironicamente vem migrando não para Serra e sim para Marina Silva. Mas Dilma continua crescendo junto às classes baixas e mesmo junto às classes médias. Mais importante: a eleição acelerou o processo de conscientização de estratos cada vez mais significativos da sociedade quanto à partidarização da mídia, de maneira que, ao mesmo tempo em que desgasta o governo com sua campanha sistemática (mas de forma apenas provisória, até que se perceba a precariedade das denúncias), a imprensa também perde prestígio (neste caso de forma duradoura, porque assinou recibo de sua desonestidade).

Teremos ainda duas semanas de guerra. O campo da esquerda mostra-se mais combativo do que nunca. Não há mais ingenuidade. Não há mais defecção. Todos queremos lutar contra a corrupção e a falta de ética no governo, mas temos plena consciência de que a vitória do PSDB não ajudará em nada nesse sentido. Muito pelo contrário. A esquerda assiste a imprensa blindar o PSDB da forma mais descarada e isso, definitivamente, não sugere nenhuma renovação ética. O tucanato revela-se mais e mais um partido fraco, sem base popular, sem militância, sem sindicatos, sustentado apenas pela mídia e, como tal, submetido e chantageado por meia dúzia de proprietários de meios de comunicação.

Aumentemos a pressão, companheiros! Eu, de minha parte, deixei de lado qualquer outra atividade ou objetivo que não seja a de lutar para que meu país não recaia nas mãos desses traidores. Não ganho um tostão do governo, do PT ou da campanha da Dilma. Luto exclusivamente por minhas idéias. Mais do que pelo meu país, luto pelo mundo inteiro, porque tenho a convicção de que o governo Dilma será muito mais benéfico à paz universal do que uma gestão alinhada aos interesses bélicos dos Estados Unidos, como prometem os ideólogos tucanos.

Intimidados por sua própria debilidade conceitual e ideológica, a oposição procura associar a vitória de Dilma a um projeto totalitário, exatamente na mesma linha que os golpistas faziam em 1964. Neste sentido, é impressionante como alguns tucanos, a começar pelo candidato José Serra, sequer se preocupam em mudar o vocabulário. Pior, Zé Baixaria tem atacado insistentemente os "blogs sujos", o que constitui, além de uma agressão à democracia, uma tremenda honra para nós. É praticamente uma medalha de guerra, porque, ao fazê-lo, ao nos atacar, ao focar sua atenção na blogosfera, ele nos promove a uma espécie de batalhão de elite, uma idéia que sempre me divertiu.

Aproveitando o gancho, quero estender esses méritos guerreiros a todos os comentaristas, deste blog, de todos os blogs, de todos os sites. Cada pessoa que expressa uma opinião, em qualquer parte da internet, dá uma participação fundamental para a construção de nossa democracia. Tenho visto com muita frequência, e ainda mais nos últimos dias, que as notícias dos grandes portais de notícias recebem uma quantidade imensa de comentários críticos e inteligentes. A sociedade brasileira está amadurecendo politicamente a um ritmo que os jornais, definitivamente, não conseguem acompanhar. Surgiu no país uma massa crítica que não tem deixado escapar nenhum artifício eleitoreiro. A nossa democracia, por isso mesmo, nunca foi tão pujante e verdadeira e portanto nunca soou tão ridículo e artificial o medo de alguns segmentos a respeito de um suposto projeto totalitário. Se esse risco existe, nunca foi tão pequeno, e o filete que o separa da inexistência total é justamente a presença de núcleos golpistas no campo conservador, que gozam de apoio midiático, às vezes tácito, muitas vezes explícito.

E por falar em golpismo, quero registrar aqui a última baixaria da campanha de José Serra, desta vez articulada por sua própria esposa, Mônica Serra. A psicóloga esteve ontem no Rio de Janeiro, ao lado do Indio (!) e, dirigindo-se a um trabalhador evangélico que declarara voto em Dilma Rousseff, disse a ele que a petista era "a favor de matar criancinhas".

Trata-se de um absurdo inominável, e juro a vocês que não acreditava que o PSDB fosse descer tão baixo. Nem concebia que esta Mônica Serra se mostrasse uma pessoa tão desclassificada. Quero acreditar que uma insanidade desta receberá o repúdio de toda pessoa esclarecida. Em virtude da gravidade da declaração, fiz três links para as notícias publicadas, no Estadão, no R7 e no meu Clipping. E ainda reproduzo abaixo:


Tal tipo de baixaria só é visto em momentos desesperados de campanhas políticas dos Estados Unidos, onde o moralismo de cunho religioso causa muito impacto. No Brasil, apesar de termos uma população bastante religiosa, ela não tem, felizmente, esse moralismo radical.

A baixaria de Mônica Serra é inaceitável por vários motivos:

  1. É mentirosa e estapafúrdia, por razões óbvias. Insere um grau de violência na campanha que apenas prejudica a qualidade do debate eleitoral. Como debater politicamente com quem fala esse tipo de coisa?
  2. É um argumento desonesto usado comumente por ultra-conservadores que tem posições radicais contra o aborto. Considerando que milhares de mulheres morrem anualmente por conta de abortos clandestinos e pela falta de uma legislação decente que obrigue os hospitais públicos e o SUS a tratá-las de forma adequada, a declaração de Mônica Serra revela-se criminosa. 
  3. É despolitizada e desinformativa, porque o aborto é liberado ou descriminalizado em quase todos os países europeus e em vários estados americanos. 
  4. Agride o debate intenso e delicado que as organizações femininas tem feito nos últimos anos. Esse tipo de declaração, ainda mais quando vindo de um membro respeitado da sociedade civil, não identificado com o fanatismo religioso, provoca, geralmente, um enorme retrocesso nas discussões. Mônica Serra causou prejuízo a todas as mulheres do Brasil que lutam pelo direito de discutir o aborto de forma civilizada.

Por fim, encerro o post com uma boa notícia. Arthur Virgílio pode não se reeleger senador pelo Amazonas.

FONTE: http://oleododiabo.blogspot.com/2010/09/sonia-montenegro-historia-se-repete.html

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